Essa é uma pergunta que sempre fazem.
Tenho recebido também através de emails e do Facebook mensagens sobre o uso e benefícios maravilhosos da água oxigenada. Que ela é boa para clarear dentes, para sinusite, para isso, para aquilo... Oitava maravilha do mundo!
Recentemente uma mensagem dizia que os dentistas escondiam dos pacientes as maravilhas da água oxigenada para clarear dentes para poderem faturar mais e mais nos seus consultórios. Oh meu Deus!
Alerto vocês que a água oxigenada pode até fazer bem, mas não do jeito que vocês imaginam.
Por favor, NÃO FAÇAM bochechos com água oxigenada! Usem um creme dental clareador se quiserem dentes mais brancos! Aumentem a quantidade de escovações diárias, fio dental! Mas bochechos com água oxigenada, NÃO!
Transcrevo abaixo parte de um artigo do Prof Alberto Consolaro, da Fac. de Odontologia de Bauru/USP:
SOBRE OS BOCHECHOS COM ÁGUA OXIGENADA E A CLAREAÇÃO DENTÁRIA
O homem descobriu, há muito tempo, que a água oxigenada
dissolve restos de células e tecidos
necrosados nas feridas, diminuindo a quantidade de microorganismos, facilitando
a ação dos antibióticos. Mas isso funciona em situações muito especiais, com
concentração adequada e pessoa
especializada, com cuidados como os recomendados pela FDA (Food and Drug
Administration), que o classificou como agente debridante para uso temporário
na cavidade bucal. Recentemente uma empresa multinacional retirou do mercado um
produto antisséptico à base de peróxido de hidrog~enio, provavelmente porque as
pessoas passaram a usa-lo inadequadamente quanto aos locais, tempo e freqüência
de aplicação.
As soluções cloradas e à base de peróxido de hidrogênio
estão nos armários de nossas casas, mas devem ficar longe das crianças e
animais. Os fabricantes devem informar um telefone em caso de intoxicação e
deve-se seguir as indicações e cuidados de uso. São produtos tóxicos,
cáusticos, que podem até matar se não seguirmos adequadamente as informações
dos fabricantes.
Na internet, algumas pessoas, irresponsavelmente, por
ignorância quanto aos preceitos da
Química, Cosmetologia, Medicina e Odontologia, têm indicado a água oxigenada em
bochechos diários, para que se diminua os germes da boca e desinflame as
gengivas, ao mesmo tempo que deixaria os dentes mais limpos e brancos. Elas
deveriam ser notificadas pelas autoridades competentes e indiciadas
judicialmente pelos crimes que estão cometendo contra a saúde das pessoas, abusando
da fé pública.
A água oxigenada
deixa as mucosas e gengivas vermelhas pela agressão, com início de
dissolução tecidual e inflamação. Água oxigenada queima e pode até necrosar as
papilas gengivais. Ela deixa os dentes limpinhos, pois desmineraliza o esmalte,
removendo, também, as sujeiras e pigmentos aderidos. O esmalte fica mais poroso
e o alimento o suja mais ainda, aumentando a necessidade de bochechos. A cada
dia o esmalte se afina e, se houver restaurações, induz infiltrações
em sua interface com o dente, podendo sair com facilidade durante a alimentação.
Se queimar a mucosa e demineralizar o esmalte fossem os principais problemas, se
poderia até pensar em uso com moderação. O problema maior é que a água
oxigenada é um agente cocarcinógeno promotor. Em outras palavras: potencializa
o efeito dos indutores de câncer de boca, da garganta, esôfago, estômago e
intestino. Pesticidas, produtos do tabaco, álcool, HPV e outros vírus
oncogênicos, raios solares e demais químicos dos alimentos industrializados são
potencializados pelo uso da água oxigenada.
Muitas teses de doutorado, dissertações de mestrado,
trabalhos e livros confirmam o que a literatura já demonstrou por meio de
vários tipos de metodologias. Com testes in
vitro
de carcingênese química, comprova-se o efeito
cocarcinogênico do peróxido de hidrogênio (ou água oxigenada) – contido em
clareadores dentários, antissépticos e dentrifícios – sobre mucosa.
Em uma pesquisa de tese de doutorado (USP -
1999), foi testado o efeito carcinogênico de um dentifrício com peróxido
de hidrogênio. De 30 marcas, em 29 dentifrícios foi detectada sua presença,
inclusive nas marcas infantis, mas, na maioria, a informação de sua presença não constava nas embalagens.
Foram usados hamsters na pesquisa, e o peróxido do dentifrício mostrou-se igual
ao clareador isoladamente aplicado: foi um promotor da carcinogênese. Os
clareadores dentários fazem parte da cultura moderna, e devemos evoluir
tecnologicamente para reduzir os efeitos indesejáveis. A clareação dentária
deve ser segura e respeitar a opção consciente dos que não querem realiza-la ,
com informações nas embalagens. O consumidor deve ter a opção de escolher o
dentifrício com ou sem peróxido de hidrogênio.
CLAREAMENTO DENTÁRIO CASEIRO
No consultório, a clareação dentária tem o mesmo efeito
cocarcinogênico que na forma de uso “caseira”? Não. O profissional treinado
isola os dentes com uma barreira resinosa cervical, ou de outra forma, mecânica
ou física, e dificulta o contato direto do clareador com a mucosa. Antes de se
retirar o clareador com água e remover a barreira resinosa, há de se ter uma
máxima sucção do clareador, para elimina-lo. Apenas quando eliminou-se
completamente todo o clareador com o sugador, deve-se remover a barreira resinosa
ou o isolamento. No consultório, a quantidade de clareador em contato com a
mucosa é muito pequena e eventual;na escovação é diária, o mesmo ocorrendo com
bochechos de água oxigenada ou uso contínuo de fitas clareadoras.
NA CLAREAÇÃO DENTÁRIA CASEIRA OS RISCOS SÃO MAIORES?
Sim, pois o paciente, mesmo “orientado” pelo profissional e,
por mais adaptada que seja a moldeira de aplicação, deixa o clareador se
distribuir pela boca com a saliva. O contado demorado com a mucosa bucal será
inevitável e a ingestão parcial contatará outras mucosas gastrointestinais.
A automedicação é muito freqüente, e se adquire o produto
sem qualquer consulta profissional, para usar em casa, de forma irregular, sem
cuidado. A falta de controle sobre o tempo e freqüência com que se realiza o
procedimento caseiro até aumenta o clareamento, mas às custas de efeitos
biológicos sobre a mucosa e dentes, que não compensam. O risco que, aliás, são
imensuráveis no futuro.
Os clareadores devem ser considerados medicamentos, e seu
uso restrito a profissionais da Odontologia devidamente treinados nas
requentadas manobras de procedimentos. Infelizmente, são vendidos livremente, e
a população ainda não está consciente dos
riscos.
CONSIDERAÇÕES SOBRE BOCHECHOS COM ÁGUA OXIGENADA
Todas as manobras em que se use o peróxido de hidrogênio
(conhecido popularmente como água oxigenada) na boca, objetivando-se a
clareação dentária, devem ser executadas diretamente pelo profissional da
Odontologia treinado para proteger a
mucosa bucal e outras do contato durante
o procedimento. O tempo e a forma de uso
requerem cuidados para proteger ou diminuir ao mínimo possível os efeitos
indesejáveis sobre os tecidos dentários e restaurações. As fitas e demais produtos
clareadores, todos têm como base a ação do peróxido de hidrogênio.
Um eventual contato com a mucosa bucal, tal como o bochecho
com água oxigenada uma vez por ano ou a
cada seis meses, poderia até ter efeito cocarcinogênico mínimo, mas todo dia ou
toda semana, como na antissepsia para se auxiliar na higiene bucal, passa a ser
um protocolo muito temerário para a saúde ao longo do tempo. Os sites, blogs e
perfis em redes sociais que estão indicando isso deveriam ser acionados
imediatamente pelas autoridades públicas!
A estética refere-se à harmonia da forma, tamanho, posição e
cores. Ao prestar mais atenção em uma pessoa ao sorrir, percebem-se gengivas e
lábios vermelhos, com dentes muito brancos, é inevitável o diagnóstico de uso
excessivo de peróxido de hidrogênio! Evidencia-se um artificialismo. O branco
excessivo e o vermelho mucoso geram um quadro muito artificial do ponto de
vista estético.
Resumido de:
Consolaro A. Bochechos com água oxigenada são carcinogênicos
e indicados na internet: implicações ortodônticas e fundamentos.
Revista Clínica de Ortodontia Dental Press – Vol 12 – num. 5
– out/nov 2013 – p. 106