quarta-feira, 26 de março de 2014

Posso fazer bochechos com água oxigenada?


Essa é uma pergunta que sempre fazem.
Tenho recebido também através de emails e do Facebook mensagens sobre o uso e benefícios maravilhosos da água oxigenada. Que ela é boa para clarear dentes, para sinusite, para isso, para aquilo... Oitava maravilha do mundo!
Recentemente uma mensagem dizia que os dentistas escondiam dos pacientes as maravilhas da água oxigenada  para clarear dentes para poderem faturar mais e mais nos seus consultórios. Oh meu Deus!


Alerto vocês que a água oxigenada pode até fazer bem, mas não do jeito que vocês imaginam. 
Por favor, NÃO FAÇAM  bochechos com água oxigenada! Usem um creme dental clareador se quiserem dentes mais brancos! Aumentem a quantidade de escovações diárias, fio dental! Mas bochechos com água oxigenada, NÃO!


Transcrevo abaixo parte de um artigo do Prof Alberto Consolaro, da Fac. de Odontologia de Bauru/USP:

SOBRE OS BOCHECHOS COM ÁGUA OXIGENADA E A CLAREAÇÃO DENTÁRIA

O homem descobriu, há muito tempo, que a água oxigenada dissolve restos de células  e tecidos necrosados nas feridas, diminuindo a quantidade de microorganismos, facilitando a ação dos antibióticos. Mas isso funciona em situações muito especiais, com concentração adequada  e pessoa especializada, com cuidados como os recomendados pela FDA (Food and Drug Administration), que o classificou como agente debridante para uso temporário na cavidade bucal. Recentemente uma empresa multinacional retirou do mercado um produto antisséptico à base de peróxido de hidrog~enio, provavelmente porque as pessoas passaram a usa-lo inadequadamente quanto aos locais, tempo e freqüência de aplicação.

As soluções cloradas e à base de peróxido de hidrogênio estão nos armários de nossas casas, mas devem ficar longe das crianças e animais. Os fabricantes devem informar um telefone em caso de intoxicação e deve-se seguir as indicações e cuidados de uso. São produtos tóxicos, cáusticos, que podem até matar se não seguirmos adequadamente as informações dos fabricantes.

Na internet, algumas pessoas, irresponsavelmente, por ignorância  quanto aos preceitos da Química, Cosmetologia, Medicina e Odontologia, têm indicado a água oxigenada em bochechos diários, para que se diminua os germes da boca e desinflame as gengivas, ao mesmo tempo que deixaria os dentes mais limpos e brancos. Elas deveriam ser notificadas pelas autoridades competentes e indiciadas judicialmente pelos crimes que estão cometendo contra a saúde das pessoas, abusando da fé pública.


A água oxigenada  deixa as mucosas e gengivas vermelhas pela agressão, com início de dissolução tecidual e inflamação. Água oxigenada queima e pode até necrosar as papilas gengivais. Ela deixa os dentes limpinhos, pois desmineraliza o esmalte, removendo, também, as sujeiras e pigmentos aderidos. O esmalte fica mais poroso e o alimento o suja mais ainda, aumentando a necessidade de bochechos. A cada dia o esmalte se afina e, se houver restaurações, induz infiltrações em sua interface com o dente, podendo sair com facilidade durante a alimentação.

Se queimar a mucosa e demineralizar  o esmalte fossem os principais problemas, se poderia até pensar em uso com moderação. O problema maior é que a água oxigenada é um agente cocarcinógeno promotor. Em outras palavras: potencializa o efeito dos indutores de câncer de boca, da garganta, esôfago, estômago e intestino. Pesticidas, produtos do tabaco, álcool, HPV e outros vírus oncogênicos, raios solares e demais químicos dos alimentos industrializados são potencializados pelo uso da água oxigenada.


Muitas teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos e livros confirmam o que a literatura já demonstrou por meio de vários tipos de metodologias. Com testes in vitro
de carcingênese química, comprova-se o efeito cocarcinogênico do peróxido de hidrogênio (ou água oxigenada) – contido em clareadores dentários, antissépticos e dentrifícios – sobre mucosa.

Em uma pesquisa de tese de doutorado (USP  -  1999), foi testado o efeito carcinogênico de um dentifrício com peróxido de hidrogênio. De 30 marcas, em 29 dentifrícios foi detectada sua presença, inclusive nas marcas infantis, mas, na maioria, a informação  de sua presença não constava nas embalagens. Foram usados hamsters na pesquisa, e o peróxido do dentifrício mostrou-se igual ao clareador isoladamente aplicado: foi um promotor da carcinogênese. Os clareadores dentários fazem parte da cultura moderna, e devemos evoluir tecnologicamente para reduzir os efeitos indesejáveis. A clareação dentária deve ser segura e respeitar a opção consciente dos que não querem realiza-la , com informações nas embalagens. O consumidor deve ter a opção de escolher o dentifrício com ou sem peróxido de hidrogênio.

CLAREAMENTO DENTÁRIO CASEIRO
No consultório, a clareação dentária tem o mesmo efeito cocarcinogênico que na forma de uso “caseira”? Não. O profissional treinado isola os dentes com uma barreira resinosa cervical, ou de outra forma, mecânica ou física, e dificulta o contato direto do clareador com a mucosa. Antes de se retirar o clareador com água e remover a barreira resinosa, há de se ter uma máxima sucção do clareador, para elimina-lo. Apenas quando eliminou-se completamente todo o clareador com o sugador, deve-se remover a barreira resinosa ou o isolamento. No consultório, a quantidade de clareador em contato com a mucosa é muito pequena e eventual;na escovação é diária, o mesmo ocorrendo com bochechos de água oxigenada ou uso contínuo de fitas clareadoras.

NA CLAREAÇÃO DENTÁRIA CASEIRA OS RISCOS SÃO MAIORES?
Sim, pois o paciente, mesmo “orientado” pelo profissional e, por mais adaptada que seja a moldeira de aplicação, deixa o clareador se distribuir pela boca com a saliva. O contado demorado com a mucosa bucal será inevitável e a ingestão parcial contatará outras mucosas gastrointestinais.

A automedicação é muito freqüente, e se adquire o produto sem qualquer consulta profissional, para usar em casa, de forma irregular, sem cuidado. A falta de controle sobre o tempo e freqüência com que se realiza o procedimento caseiro até aumenta o clareamento, mas às custas de efeitos biológicos sobre a mucosa e dentes, que não compensam. O risco que, aliás, são imensuráveis no futuro.

Os clareadores devem ser considerados medicamentos, e seu uso restrito a profissionais da Odontologia devidamente treinados nas requentadas manobras de procedimentos. Infelizmente, são vendidos livremente, e a população ainda não está consciente dos      riscos.


CONSIDERAÇÕES SOBRE BOCHECHOS COM ÁGUA OXIGENADA
Todas as manobras em que se use o peróxido de hidrogênio (conhecido popularmente como água oxigenada) na boca, objetivando-se a clareação dentária, devem ser executadas diretamente pelo profissional da Odontologia treinado  para proteger a mucosa  bucal e outras do contato durante o procedimento. O tempo e  a forma de uso requerem cuidados para proteger ou diminuir ao mínimo possível os efeitos indesejáveis sobre os tecidos dentários e restaurações. As fitas e demais produtos clareadores, todos têm como base a ação do peróxido de hidrogênio.

Um eventual contato com a mucosa bucal, tal como o bochecho com água oxigenada uma vez por  ano ou a cada seis meses, poderia até ter efeito cocarcinogênico mínimo, mas todo dia ou toda semana, como na antissepsia para se auxiliar na higiene bucal, passa a ser um protocolo muito temerário para a saúde ao longo do tempo. Os sites, blogs e perfis em redes sociais que estão indicando isso deveriam ser acionados imediatamente pelas autoridades públicas!
A estética refere-se à harmonia da forma, tamanho, posição e cores. Ao prestar mais atenção em uma pessoa ao sorrir, percebem-se gengivas e lábios vermelhos, com dentes muito brancos, é inevitável o diagnóstico de uso excessivo de peróxido de hidrogênio! Evidencia-se um artificialismo. O branco excessivo e o vermelho mucoso geram um quadro muito artificial do ponto de vista estético.




Resumido de:
Consolaro A. Bochechos com água oxigenada são carcinogênicos e indicados na internet: implicações ortodônticas e fundamentos.

Revista Clínica de Ortodontia Dental Press – Vol 12 – num. 5 – out/nov 2013 – p. 106




sexta-feira, 21 de março de 2014

Síndrome de Down e Odontologia

Dia 21 de março é o dia Internacional da Conscientização  da  Síndrome de Down.


A síndrome de Down também é chamada Trissomia do 21. Ou seja, temos 23 pares de cromossomos e o 21º.  par tem um cromossomo a mais, o que causa a Síndrome, e não se sabe exatamente  o que causa esse problema. Geralmente o risco da trissomia aumenta quando a mãe tem mais de 40 anos e também exposição avançada a altas doses de radiação. Aproximadamente 1 caso para  cada 800 nascimentos.

Geralmente o indivíduo com síndrome de Down apresenta atraso de desenvolvimento, baixa estatura, QI reduzido, problemas acardíacos, predisposição à infecções, órgãos genitais diminuídos, desenvolvimento da face alterado, olhos amendoados, nariz em sela e envelhecimento precoce.
Na boca, podemos ver problemas tais como maxila atrésica ( céu da boca  estreito),  língua com fissuras, falta de alguns dentes (agenesia), erupção dentária retardada dentes que demoram para nascer e crescer), mordida cruzada posterior bilateral, mordida aberta anterior,  língua grande é comum. Muitas vezes a pessoa fica com a boca aberta  porque a faringe é estreita e as amígdalas  são grandes e isso dificulta a respiração.

Pode-se observar também microdontia (dentes pequenos) ou muito grandes, dentes conóides (dentes mais "fininhos"), falta de dentes ou excesso deles.
Existe uma alta prevalência de  problemas periodontais e uma baixa prevalência de cáries. A baixa prevalência de cáries pode ser explicada pelo atraso na erupção dos dentes, ou seja, como eles demoram para nascer, demora também para aparecer cáries. e segundo pesquisadores, a composição salivar desses indivíduos parece ser diferente ajudando nesse aspecto. A anatomia dos dentes também é diferente, as fóssulas e fissuras dos dentes são menos acentuadas o que não deixa acumular alimentos. O alto índice de problemas periodontais pode ser devido a uma deficiência do sistema autoimune.
Muitas crianças com síndrome de Down apresentam  péssimas condições de higiene bucal. Isso porque muitos pais não orientam e nem fiscalizam a escovação dos filhos. Essas crianças (aliás, todas as crianças) necessitam de muito amor, apoio e informação para a conservação da saúde bucal, para gengivas e dentes saudáveis. E visitas periódicas ao dentista, para que seja feita a procura de cáries, para a aplicação de um selante,profilaxia, flúor e tratamento ortodôntico se for o caso.

terça-feira, 18 de março de 2014

Aparelhos falsos e os riscos para a saúde de sua boca

Camelôs nas ruas do centro de São Paulo ( e provavelmente de outras muitas cidades) vendem componentes para a própria pessoa "montar" seu aparelho fixo de enfeite. Borrachinhas coloridas, elásticos coloridos e bráquetes (pecinhas). Impressionante é a pessoa colar os bráquetes com a famosa cola SuperBonder e não ficar com os dedos colados nos lábios, lábios colados nos elásticos e outras coisas mais terríveis. São os chamados "aparelhos diferenciados".

Muitas vezes os falsos colocadores de "aparelho" fazem propaganda no Facebook e aí também vendem o  material colorido  tais como elásticos. Já vi propaganda no site "Mercado Livre" de uma pessoas que vendia elásticos coloridos sob o título: "Troque você mesmo as borrachinhas de seu aparelho".

 Impressionante também é a moda de fazer "rolezinhos" em shoppings usando aparelhos falsos! Mesmo quem usa aparelhos fixos verdadeiros gosta de "incrementar" com elásticos super coloridos. Não pense que quando os bráquetes são colados pelo seu  dentista e você resolve incrementar, não aparecem problemas... Aparecem sim, pois geralmente as pecinhas são enroladas com voltas e voltas de elásticos! E esses elásticos fazem uma força absurda, capaz de "balançar" um ou mais dentes.

Na reportagem do Fantástico de 09/03/14, um adolescente dizia que usava fios (cerdas) coloridos de vassoura para deixar mais chamativo seu aparelho fixo.


O que acontece quando um aparelho fixo é mal instalado?



 Na foto acima, pode-se ver um aparelho fixo muito mal feito. Alguém não habilitado apenas colou as pecinhas nos dentes dessa pessoa, sem medidas, sem conhecimento algum. O resultado é que cada dente foi para um lado e pode-se ver que os incisivos superiores estão quase que perdidos...

Importante lembrar que pessoas curiosas estavam (ou ainda estão) colando "aparelhos fixos" em indivíduos desejosos de "mudar o visual. Muitos "falsos  dentistas" foram denunciados e alguns já foram presos (falsidade ideológica dá 3 anos de reclusão). O Conselho Regional de Odontologia está atuando para que materiais ortodônticos só sejam vendidos para dentistas (nas dentais), mediante a apresentação do número de inscrição do CRO.




O que você acha que irá acontecer com alguém que tem um aparelho como esse na foto acima? O aparelho não possui o arco, necessário para os movimentos corretos dos dentes. Ele está trançado com fio de vassoura!! Tem coragem? Muitos colam as pecinhas só nos 6 dentes anteriores!




Olha só na foto acima o  resultado de aparelho falso... Perda dentária!


Portanto, meu amigo ou amiga, procure um especialista em ortodontia se realmente você precisa de tratamento ortodôntico. Não compre nada na internet e nem  de camelôs.  Os dentistas estudam quatro anos em período integral para se tornarem cirurgiões-dentistas. E mais dois a quatro anos de especialização pela frente para se tornarem especialistas em ortodontia. A ortodontia mal feita, ou melhor, aparelhos de enfeite, podem provocar perda de dentes, inflamações gengivais seríssimas e é claro, mal hálito. Ou será que cerda de vassoura não provoca mal hálito? Já pensou na quantidade de resíduos que ficará grudado nesse tipo de "aparelho"?

A ortodontia requer planejamentos, estudos, radiografias. E aparelho é para corrigir  posições dentárias, não é modismo, não é enfeite, é tratamento odontológico! É assunto sério! 

Ou você quer perder seus dentes?