Apareceu uma afta na minha boca, e agora?
O que é uma afta?
A palavra afta literalmente significa "eu
inflamo", ou "eu ascendo" ou, ainda, "eu queimo".
Inicialmente, foi utilizada na Grécia por Hipócrates, o pai da Medicina, para
identificar o "sapinho" ou candidose pseudomembranosa em crianças.
Mais tarde, seu uso se estendeu para toda e qualquer ulceração nas mucosas.
CLASSIFICAÇÃO DAS AFTAS BUCAIS
As aftas podem ser classificadas em três tipos, de acordo
com as suas manifestações e características clínicas:
1. Aftas menores,
ou de Mickulicz: são ulcerações muito dolorosas ou ardentes, de 1cm de diâmetro
em média, e que afetam a mucosa bucal em áreas não queratinizadas . Podem ser
únicas ou múltiplas, mas na maioria dos pacientes apresentam-se como lesões
isoladas. Tendem à reparação, entre 5 e 10 dias, sem deixar cicatrizes.
2. Aftas maiores, ou
de Sutton: são ulcerações maiores com extensões surpreendentes de até 3 a 4cm.
São necrosantes, extremamente dolorosas, incapacitando o paciente para suas
atividades normais. Sua duração, em média, se alonga entre 3 e 6 meses cada
uma, deixando cicatrizes fibrosas e definitivas.
3. Aftas herpetiformes: caracterizadas pela multiplicidade
de diminutas e dolorosas lesões ulceradas simultâneas na mucosa bucal. Esse
nome resulta de sua semelhança com as lesões da estomatite herpéticas.
AFTAS APÓS A INSTALAÇÃO DE APARELHOS ORTODÔNTICOS
A instalação de aparelhos ortodônticos pode estar
relacionada com o aparecimento de uma ou mais aftas na mucosa bucal, que quase
sempre são lesões do tipo aftas menores, mas incomodam muito as pessoas, principalmente quando
habitualmente não eram afetados por este problema antes da instalação dos
aparelhos ortodônticos .
Alguns pacientes apresentam as aftas no decorrer do
tratamento e não necessariamente logo após a sua instalação. Esses casos podem
estar relacionados a momentos de estresse físico ou psicológico, alterações de
hábitos alimentares ou condições sistêmicas que possam modificar a reatividade
do sistema imunológico.
Em pacientes fumantes, o aumento da espessura da mucosa
bucal e de sua queratinização está presente em todas as regiões e esse tipo de
paciente NÃO APRESENTA aftas bucais em função dessa adaptação funcional
induzida pelo tabaco. Quando pacientes fumantes deixam o vício, podem
apresentar aftas, às vezes duradouras e múltiplas, e, em função dessa
intercorrência, podem voltar a usar o tabaco.
Muitos pacientes anêmicos também apresentam grande número de
aftas bucais, pois, com a mucosa fragilizada, os microtraumatismos são mais
freqüentes, principalmente com aparelhos ortodônticos.
A possibilidade de herdarmos a "capacidade" de ter
aftas bucais é bem maior, ou quase absoluta, se os pais foram portadores de
aftas ao longo da vida
Ainda é grande a chance, em torno de 50%, de herdar-se essa
capacidade se um dos pais apresentar essa propriedade. A possibilidade de
herdar-se a característica de propensão às aftas é bem menor, ou muito
reduzida, em filhos cujos pais não apresentam-se portadores ao longo da vida.
Em outras palavras, se os pais têm aftas, provavelmente os
filhos também terão uma grande propensão a apresentá-las, pois suas células
poderão ser reconhecidas como estranhas pelo sistema imunológico, tais como
acontece com as dos pais.
Quando, na mucosa bucal, ocorrem microulcerações (pequenos machucados) induzidas
por alimentos, instrumentos, braquetes, escovas, agulhas e outras formas, há
também a formação de aftas.
Os braquetes, os fios e as bandas ortodônticas, uma vez
instalados nos dentes, promovem invariavelmente microtraumatismos nos lábios,
bochechas e margens linguais laterais.
As aftas bucais após a instalação de aparelhos ortodônticos
NÃO decorrem de fatores alérgicos, não representam hipersensibilidade a
componentes dos braquetes, fios e bandas. Uma vez transcorridas algumas semanas
de uso do aparelho, haverá uma adaptação estrutural da mucosa bucal, que
aumentará a espessura epitelial e a sua queratinização. As aftas diminuirão e
até podem desaparecer por completo após esse período de adaptação, mas
representam um grande incômodo clínico e pessoal.
ORIENTAÇÕES E CONDUTAS PARA PACIENTE ORTODÔNTICO COM AFTAS
BUCAIS
Em alguns pacientes ortodônticos, por maiores cuidados que
sejam tomados - como a colocação de cera ou outro tipo de oclusão dos braquetes
e fios para se evitar o contato e microtraumatismos na mucosa bucal -, as aftas
bucais aparecem inevitavelmente em número maior do que o paciente estava
acostumado. Mas deve-se orientar o paciente sobre como evitar os microtraumatismos
durante:
1) Evite alimentos perfurantes, como
abacaxi, cascas de pão, pipoca e outros. Alimentos muito ácidos (limão, abacaxi, laranja, tomate) podem alargar os microtraumatismos na mucosa bucal; recomenda-se a
ingestão em forma de sucos.
2) Higiene bucal cuidadosa, evitando o contato das cerdas e
movimentos bruscos com as escovas sobre a mucosa bucal;
3) Use protetores sobre os braquetes,
fios e bandas para evitar mordidas ao dormir, durante o apertamento bucal e o
bruxismo, tais como a cera ortodôntica.
4) Algumas semanas de uso do
aparelho, sua mucosa bucal se adaptará, aumentando a queratinização, e as aftas
diminuirão ou provavelmente desaparecerão.
Se o paciente abandonou o vício de fumar há pouco tempo, provavelmente aparecerão muitas aftas bucais.
O alívio imediato da dor das aftas local se faz muito
importante. Proceda da seguinte forma:
1) Limpar delicadamente o leito amarelado ou branco da
afta com cotonete umedecido em água oxigenada bem diluída ou em soro fisiológico,
ou até em água. Esta pseudomembrana representa um obstáculo à penetração
medicamentosa, mas nem sempre está presente.
2) Passar, por até cinco vezes ao dia uma pomada específica.
Aplicar até cinco vezes ao dia, quando necessário,
utilizando-se os dedos ou cotonetes levemente umedecidos. Uma indicação seria a pomada Omcilon-a Orabase, mas fale com seu dentista antecipadamente.
3) A finalidade do medicamento: apenas
aliviar os sintomas e promover a sensação de conforto!
Adaptado do artigo " Aftas após instalação de aparelhos ortodônticos: porque isso ocorre e protocolo de orientações e condutas" do Dr Alberto Consolaro publicado na Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial vol.14 no.1 Maringá Jan./Feb. 2009
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