terça-feira, 28 de agosto de 2012

Bruxismo

Entende-se por bruxismo o hábito parafuncional de ranger os dentes. Uma vez que nessas circunstâncias eles estão submetidos - assim como a estrutura ósseo e as articulações - a forças de intensidade muito superior  às exercidas durante a mastigação, caso não seja tratado adequadamente, o fenômeno pode ser responsável não só pelo desgaste ou fratura dos dentes  e/ou próteses, mas também por lesões do periodonto (tecidos que sustentam o dente), dores faciais e na região fronto-temporal. O bruxismo é também apontado como importante fator na etiologia da Disfunção Temporomandibular (DTM), provocando dores principalmente nos músculos da mastigação.


Qual a causa do bruxismo?
Muitas são as causas.  Fatores anatômicos, fisiológicos, neuromusculares e psicológicos. No caso dos fatores psicológicos, a literatura especializada aponta para o estresse do dia a dia, ou ao estresse provocado por qualquer tipo de problemas.


Há algum tempo os clínicos têm percebido um aumento na incidência dos relatos do ranger de dentes, nos levando a supor que - não sendo provável alguma alteração biológica que predisponha o ser humano, hoje mais do que ontem, ao quadro - deve haver na cultura contemporânea algo que exponha excessivamente o indivíduo comum a essa resposta. 

Derivado da palavra grega brychein que significa triturar ou ranger os dentes, o termo bruxismo foi utilizado pela primeira vez em 1907, por Marie e Pietkiewicz como la bruxomanie. 
Mas o sofrimento a que se refere é bíblico: "Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o às trevas exteriores. Ali haverá pranto e ranger de dentes".

A associação do bruxismo ao martírio e ao sofrimento mental é, então, muito antiga, possivelmente tão antiga quanto o medo, pressuposto indissociável do contato com as trevas. 
Temos então que buscar aquilo que aflige o ser humano, frente ao que se veja de pés e mãos atados, numa experiência de desamparo, buscando dar nome a essas trevas, sejam exteriores, como propunha Mateus (do Evangelho), ou internas, como objetos de indagações.

Todas as pessoas, em alguma etapa de sua existência, rangem os dentes.  A ocorrência de bruxismo noturno durante a vida de um paciente é altamente variável, relacionando-se com "eventos marcantes ou com períodos emocional ou fisicamente difíceis"


Considera-se que o bruxismo é muito dependente do estresse, e alguns indivíduos reagem ao estresse cm níveis mais elevados de tensão nos músculos da mastigação.  Alguns estudiosos do assunto dizem que o estresse diário mais o problema dentário (maloclusão) se refletem na atividade dos músculos durante o sono. Geralmente a ansiedade está associada ao bruxismo.

Diagnóstico
Como diagnosticar o bruxismo?
Geralmente  a maioria dos pacientes não se queixa de ter bruxismo, e alguns nem sabem que têm.  Geralmente o barulho noturno é notado por parte de alguém, que partilha o mesmo espaço. O dentista pode observar  "o bruxismo" à partir da observação do desgaste nas superfícies dentárias. Geralmente o paciente se queixa de de fadiga (cansaço) muscular facial, dor facial, ou cefaleia pela manhã. Por vezes, ainda, o paciente relata a percepção de acordar durante a noite com os dentes travados.

A POLISSONOGRAFIA  é importante instrumento nas pesquisas sobre o bruxismo. Pode confirmar o diagnóstico, sendo que a rápida identificação do quadro permite uma intervenção precoce com a minimização dos seus efeitos, mas, em razão da diversidade ds fatores envolvidos, o tratamento deve ser multidisciplinar. Como se sabe hoje, a cura do bruxismo é uma mera pretensão clínica, e maneira que qualquer proposta de compreensão poderá mostrar-se útil na elaboração de estratégias de tratamento.

Causas
O estresse é citado de maneira frequente como um suposto fator etiológico para o bruxismo. 
Estresse é um termo emprestado da física - no qual é associado à tensão e desgaste a que são submetidos os materiais. O termo foi proposto pelo endocrinologista Hans Selye, em 1936, para designar o estado de tensão que rompe o equilíbrio interno do organismo, ou a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de um indivíduo frente às pressões do mundo externo (ambientais, sociais, etc) ou do mundo interno (expectativas ou pretensões de diversas ordens). Tido como importante fator etiológico de doenças em geral, e relevante motivo para a busca aos profissionais de saúde, a OMS o tem considerado um dos males do século.

Alguns medicamentos também podem causar o bruxismo. Aliás, isso muitas vezes está explícito na bula:
-  fluoxetina
– sertralina
– paroxetina
– venlafaxina
– buspirona 

Uma observação interessante também é que o consumo excessivo de adoçantes (muitos anos, várias vezes por dia), pode produzir bruxismo.


Tratamento 
Aparelho ortodôntico fixo não é terapia para bruxismo, mas quando o paciente possui um problema grave de maloclusão, muitas vezes usando o aparelho o bruxismo tende a desaparecer. Não em todos os casos.

No caso do paciente estar tomando algum medicamento que provoque o bruxismo, deverá parar com esse medicamento ou então que esse remédio seja substiruído por outro menos danoso. Leia as bulas dos remédios que toma.

Rinite, resfriado, dores em qualquer parte do corpo também podem provocar um bruxismo  passageiro.  Nesses casos, após a cura do problema o bruxismo tende a desaparecer.

Pode ser usada uma placa para impedir que o ranger de dentes desgaste todos os dentes do paciente. O ideal é a placa de resina, que envolve todos os dentes da arcada. Mas atenção: A PLACA NÃO IRÁ "CURAR" SEU BRUXISMO, ela servirá somente para impedir o desgaste dos dentes. E deverá ser trocada ou reparada de tempos em tempos, pois pode apresentar "furos". O ideal será sempre tentar descobrir a causa desse ranger de dentes.

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Adaptado da Revista do CROMG - vol 12, n°1, jan-jun 2011

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Hepatite

Ouvi falar que se pode "pegar" hepatite com alicate de cutícula e até em consultório de dentista. É verdade?


Em primeiro lugar, vamos entender o que quer dizer a palavra "hepatite".
Hepatite é uma inflamação do fígado, que pode ser causada por vírus, bactérias, agentes químicos como resíduos petroquímicos, uso de determinados medicamentos, álcool, drogas, chás ou ainda por doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. No Brasil, o que temos de mais comum são as hepatites virais que recebem o nome de acordo com o vírus que as causam. Atualmente temos a hepatiteA, a B, C, D e E.


Hepatite A - É autolimitada e de caráter benigno, ocorrendo apenas na forma aguda e com raras complicações. O paciente com hepatite A pode se recuperar completamente eliminando o vírus  de seu organismo em até 6 meses.
Transmissão: O vírus A é transmitido pela ingestão de alimentos com água contaminada com resíduos fecal  humano e também pelo contato interpessoal (via oral-fecal).
Prevenção: Consumo de água de boa procedência, medidas de saneamento básico e frutas, verduras e legumes bem lavados. Evitar aglomerações e compartilhamentos de copos e talheres. Existe vacina para hepatite A, mas não está disponível de forma ampla o sistema público de saúde. Apenas nos Centros de Referências Imunológicos Especiais.
Tratamento: Como a hepatite A não causa muita agressão ao fígado, é curável e o tratamento é apenas de suporte, indicado de acordo com a saúde do paciente.


 Hepatite B - Apresenta tanto a forma aguda quanto a crônica. No caso da crônica, o vírus fica no organismo por mais de 6 meses. Se evoluir para crônica, pode causar danos graves ao fígado, como cirrose e câncer. Entre adultos infectados, 5 a 10% evoluem para a forma crônica da doença.
Transmissão:è considerada doença sexualmente transmissível (DST), pois o vírus HB é transmitido preferencialmente por essa via, já que é bem adaptada a essa transmissão: se concentra no sêmem e pode viver por muitos dias no ambiente vaginal.
Também pode ser transmitido de mãe para filho, na gestação, parto ou amamentação (via vertical). Nesse tipo de transmissão a chance de cronificação pode chegar a 90% com maior risco de evolução para cirrose e hepato carcinoma em fase precoce da vida.
É possível também a transmissão por:
- instrumentos pérfuro cortantes ( em instrumentos contaminados em hospitais, médicos e dentistas)
-compartilhamento de objetos de higiene pessoal, tais como:
 1. escovas de dente
                                                                                                    
 2. alicates de unha
                                                                                                    
 3. tesouras de unha
                                                                                                     
4. lâminas de barbear
                                                                                                    
 5. tintas e agulhas de tatuagem 

Prevenção: Sexo seguro ( com preservativos) e assepsia. Não compartilhamento de instrumentos pérfuro cortantes (seringas, p. ex.). É também importante o rastreamento da gestante para hepatite B no pré-natal, visando adotar as medidas pertinentes para prevenir infecção do recém nascido.
A hepatite B tem vacina, aplicada em 3 doses, muito eficaz e disponível nas redes de saúde.
Tratamento: Está indicado de acordo com o estado do paciente, mas além dos medicamentos, deve contemplar uma dieta de fácil digestão e sorte do consumo de bebidas alcoólicas por 6 meses, pelo menos.
A hepatite B não tem cura, mas se o diagnóstico for feito precocemente, e a resposta do paciente for boa, é possível controlar a replicação do vírus, evitando que o fígado seja agredido e ocorram complicações. Todos os medicamentos para a hepatite B estão disponíveis na rede pública, mas seu uso depende das diretrizes brasileiras para tratamento das hepatites  virais.
Tratamento: Está indicado de acordo com o estado do paciente, mas além dos medicamentos, deve-se ter uma dieta de fácil disgestão e corte do consumo de bebidas alcoólicas por 6 meses pelo menos.
A hepatite B não tem cura, mas se o disgnóstico for feito precocemente e a resposta do paciente for boa, é possível controlar a replicação do vírus, evitando que o fígado seja agredido e ocorram complicações. Todos os medicamentos para hepatite B estão disponíveis a rede pública, mas isso depende das diretrizes brasileiras para tratamento das hepatites virais.

Hepatite C - A HC assim como a HB evolui silenciosamente para a forma crônica quando o vírus não é eliminado de pois de 6m, o que acontece em 80% dos casos.
Nesse caso pode causar agressão ao fígado com potencial para o desenvolvimento de cirrose e câncer de fígado.
Transmissão: Também transmitida por via sexual, mas essa forma é mais rara. A mais comum é a parenteral, através do compartilhamento de pérfuros-cortantes ou de higiene pessoal contaminado pelo sangue do portador: agulha, instrumento cirúrgico, escovas de dente, alicate, lâminas de barbear., etc
A transmissão também é possível de mãe para filho durante a gestação, parto e amamentação.
Prevenção: Correta assepsia e não compartilhamento de instrumentos pérfuro cortantes (p.ex. seringas). Nos serviços de saúde deve ser usado material descartável. Além disso é importante o uso de preservativos nas relações sexuais e o ratreamento da gestante para hepatite pré-natal, visando adotar medidas para prevenir a transmissão para o bebê. A hepatite C não tem vacina.
Tratamento:  Quando a inflamação hepática evolui para a forma crônica, o tratamento pode ser complexo e, além dos medicamentos dependerá da realização dos exames específicos como biópsia hepática e de biologia molecular. As chances de cura variam de 50% a 80% dos casos.

Hepatite D - O vírus da hepatite D ou Delta é um problema muito comum na Amazônia e só atinge pacientes portadores do vírus do  HB pois ele parasita o vírus B. A contaminação pelos 2 vírus também pode acontecer ao mesmo tempo. A hepatite Delta, assim como a B ou C pode evoluir tanto para a forma aguda quanto crônica da doença, havendo risco e danos sérios ao fígado.
Transmissão: As formas de transmissão são as mesmas, das hetatites B e C: por via sexual, sanguínea e de mãe para filho.
Prevenção: Uso de preservativos, assepsia, e não compartilhamento de instrumentos pérfuro cortantes e de objetos de higiene pessoal, testagem da gestante e se for portadora, encaminhar e orientar sobre o tipo de parto e não amamentação até que a criança tome a primeira dose de vacina de hepatite B.
Tratamento: Depende do tratamento da hepatite B, com medicação, alimentação menos gordurosa e não consumo de bebida alcoólica, pelo menos pelo período de 1 ano. O paciente contaminado pelos 2 vírus no mesmo momento tem mais chances de se recuperar completamente.


Hepatite E - É a hepatite viral menos comum no Brasil. É também autolimitada e se apresenta apenas na forma aguda, mas pode apresentar formas clínicas graves, principalmente em gestantes. O paciente com hepatite E pode se recuperar completamente eliminando o vírus de seu organismo em até 6m.
Transmissão: O vírus E é transmitido pela ingestão de alimentos ou água contaminada com resíduo fecal humano (via oral fecal). Pelo contato interpessoal também é possível, mas não é comum.
Prevenção: Consumo de água de boa procedência, medidas de saneamento básico, frutas, verduras e legumes bem lavados e mariscos e frutos do mar bem cozidos pois podem concentrar partículas virais no tubo digestivo. Evitar aglomerações e compartilhamento de copos e talheres.
Tratamento: Geralmente não requer tratamento sendo proibido o consumo de bebidas alcoólicas e recomendado repouso e dieta pobre em gorduras.
A internação somente é indicada em quadros clínicos.


Respondendo então a pergunta logo no início do texto: "É  possível "pegar" hepatite no dentista e com alicate de unha?"

Conforme visto no texto, é possível "pegar" hepatite através de instrumentos pérfuro cortantes. Por aí se entende que todo material deve ser esterilizado, tais como agulhas, seringas, alicates de cutícula, agulhas de tatuagem e mesmo restos de tinta podem estar contaminados ( se reutilizados). Alicates e cutícula, tesouras, compartilhamento de escovas de dentes, lâminas de barbear, são fontes de contaminação. O sexo deve ser seguro. Beijo e sexo oral podem transmitir hepatite.